Os olhos que morreram...



Teus olhos não percebem
não há luz, nem abrigo
são rochas escuras
que ainda permeiam sonhos
mas tateiam cinzas...
Tua cabeça procura
caminhos vistos, mas perdidos
que já foram claros, alegres
e agora apenas semeiam...
Teus pés vagam de leve
medo imenso que não haja chão
enquanto mãos se batem
na procura vã de paredes...
A alma ainda treme
soluçando a noticia
da chegada desse palco negro
feridas abertas, repletas...
sinais escondidos
da dúvida não vista...
As cores fugiram
As portas sumiram
Os sons aumentaram
As passadas são breves
mas sua alma ainda luta
busca a vida interrompida
pela falta de algum clarão...
Teu olhar continua
parado, inerte, focado
direcionados para um nada profundo
mas ainda bem-vindo...
Certo é que não vês
teus olhos morreram
mas a vida implora tua presença
mesmo que seja angulada
em tons cinzas, escuros, lápidos
e essa escuridão que em ti mora
nada impede qualquer amor
ele não olha cor
e transcende qualquer caminho
isso faz com que mesmo sem nenhum olhar
mesmo sem retinas, sem luz ou sem mar
tu mores dentro de muitos peitos...
e os olhos de nossos corações
tenhas a certeza,
sempre serão teus...


Em foco a meu irmão que ficou cego recentemente e agora está comigo... 
Ka Santos


Um comentário:

  1. Senti no mergulhar destas palavras
    um profundo pulsar de um coração
    toquei-as,e sentir em mim brilhar,palavras estás
    iluminadas são mãos á tocar as cordas poídas do meu coração e dar mais luz ao meu dia nublado.
    Ah,poetisa tu,tens a magia de escrever e tocar até que nossos olhos e alma,ficam em águas de emoção.É sempre uma honra em pousar meus olhos nestas obras deslumbrantes,de elevadas poesias,alma e coração.

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