Ando tão sozinha ♥




Ando tão sozinha dentro dessa multidão que começo a me acostumar com o inanimado. Será que os sons que não ouço foram mesmo pronunciados? Dentro dessa cratera de andarilhos vejo sombras que fogem. Fogem de mim e do medo que absurdamente não sinto. Onde estarão minhas armas? Porque perdi meu caminho, meus sonhos e minha agenda? Fico perplexa diante do espelho que não reflete meu sorriso, porém ilumina minha dúvida. E nas largas passadas rumo ao destino percebo que deixei todas as malas e trouxe somente meus desejos. Não me importo, não sou apegada a bobagens. Me apego, me agarro e me rasgo por sentidos. Sentidos de plenitude que nunca tive; de equilíbrio que deixei numa escada alta; e de pensamentos brandos e serenos que cabem dentro de um vidro. E na caminhada encontro pontos intermitentes de luz: sinalizando meu espírito bifásico, bipolar, bivalente. Toda minha viagem me parece tremenda e nem sempre é... Possuo a estranha característica de aumentar o tamanho das coisas em proporções distorcidas: deve ser pelo meu medo da matemática. Mas as trilhas, os destinos, as viagens tornam-se sem ângulo algum e repletos de retas inexistentes. Minha paixão pela lua fez tudo em mim, circular. Por isso minha estranha solidão tende a voltar e voltar e voltar... Vivo nessa intensa esfera de sentir-me só e de ser só. Acompanham-me apenas meus simples versos. E neles transbordo meus nãos e meus vácuos. E dentro dessa multidão de normais, coloco meu silêncio no colo, visto as asas deixadas no beiral da telhado, guardo meu enorme “compasso”, e confesso: ando tão sozinha... 

... liberta tua nuvem! ♥




E do mundo
que escondeste
acharei eu,
um pouco,
pois em mim
permaneceste,
dominando...
tremendo...
envolto...

Teus olhos
repletos
fulgindo
em meu lábio,
explodem
as promessas,
do que fomos
e de nossa
alma
indecifrável...

Percebas,
enfim,
a nuvem
que cultivas
voa sozinha,
não renasce
não ressoa
apenas
procura,
ardentemente,
a minha...

Portanto,
te digo,
desistas
de não ter-me,
pois sou
tua vida
teu infinito
teu agora
teu sempre...


The Wall ♥




Naquela parede

reta, ereta

vive um buraco...

Um buraco

escuro

que não finda

e que ecoa...

Naquela parede

o buraco

a água verte

verte e escoa...

Será mesmo

um buraco na parede

ou apenas

um vão

um vão que trinca

um vão que voa...

Naquela parede

vive um buraco

e o buraco

esconde

reflete

ressoa...

Naquela parede

onde o buraco

vive

um cipó

morre

Mas o seu silêncio

perdoa...


O Bem ♥


Há de se ter muita força para crer no bem. Nem sempre carregar esse valor é gratificante. E ter a certeza que se esse bem em nada constrói joga por terra nosso esforço. Encerrar ciclos demanda, por vezes, uma espécie de maldade que nem possuímos. Buscar sentimentos inexistentes é como ver um cristalino rio transbordar e mesmo assim morrer de sede. Que Deus seja misericordioso e nos dê sinais dos caminhos certos. Que nos tire da tristeza, nos transborde de perdão e nos diga: Vai filha, segue teu caminho, rega tuas flores e coloca tuas asas! Teu passado esta findo. Tua missão foi cumprida. Teu futuro te espera feliz!


E eu? Que eu possa apenas experimentar a alegria e a paz! E ainda, que eu possa voltar a acreditar no Bem!


TRANSBORDANDO-ME ♥


E minhas retinas,
tristes,
claras
 Imersas de uma esperança
branda,
rara
 
Acometeram-se da verdade, incólume, cara
                                                                       Que era preciso encher o copo 
e viver do que trasbordara.

Prisioneiros ♥



Não se engane
tua certeza não é absoluta
tuas efêmeras verdades
são perenes e já nascem vãs
  
Não se iluda
a vida é a cartola de um mágico
num dia tu és pureza
no outro adormecerás disfarce

Não sê tolo
tu és apenas um nascimento
ages achando ser o dono
e morres sem nenhum chão!

E pasme-se
nesse universo de nadas
diante desse imenso absurdo-mundo
resta-te apenas idiotar-se!


Felicidade? Sim ou Não?



A felicidade existe? Ouvimos e buscamos essa questão que ninguém explica ou vivencia na plenitude. Há de se ter coragem para ser feliz e buscar incessantemente um sentimento glorioso cuja meta é uma explosão constante de alegria e paz. Pequenos provérbios urbanos até grandes pensadores e filósofos pregam a mesma tese, porém nunca mostraram nenhum caminho.
Cada um tem dentro de si uma semente a germinar, ou não, para cada grande emoção. Escritores discorrem com maestria e fixação sobre a felicidade e o amor, os quais em conjunto, fariam a equação plena.
Nos sonhos ela existe, e sonhos são sempre nossos, acordados ou não. No jardim de cada alma pulsa essa vontade infinita de encontrar o tão almejado contentamento.
Pessimismo? Creio que não, apenas se faz necessário discordar, por meio da razão, que a realidade é nossa companheira e nela mora todas as emoções possíveis, fantasiadas de momentos, alguns, portanto, felizes.
Para a consciência do ser racional, a felicidade mora em lapsos de tempo, aparece em alguns lances de nossa vida, somente nos cabe agarrar esses minutos e vive-los, pois se buscarmos “o ser feliz” constante, sobriamente podemos afirmar: Não há!
Porém, como toda questão possui dois lados, há de ser contemplar a visão do poeta. Ah, o poeta, que de tão cheio de sentimentos e sensibilidade conseguiu até mesmo uma “licença poética” para discorrer suas ilusões, visto que os leitores nem sempre podem alcançar suas linhas.
Para a poesia a felicidade vive de rimas e de cadência, em versos singelos ou de profundidade inquestionável que transmitem, a um passo anterior à felicidade, a esperança de sua existência.
A poesia não fala, ela cala. Cala e absorve, pega o poeta e move para dentro de suas letras. E assim, tinge aquela alma, desce daquele coração e voa a outro, feito borboleta.
Nesse lado abstrato onde poetas vivenciam sentimentos dúbios e fortes, a felicidade pode ser narrada, pode ser explicada, pode ser vivida. Ela mora na poesia, na canção, na paixão, nas letras de humanos que são extremamente perceptíveis a qualquer movimento da mente, que vivenciam nostalgia e futurismo na mesma intensidade, concomitantemente. Reside na proximidade que os poetas têm com os céus. Seres que tiram da tristeza uma criatividade imensa e da alegria, um mundo de variantes sem fim.
Além dos poetas, ainda restam pessoas capazes de serem viveiros de otimismo, de bondade, de corações expostos e portadores de amor sobrepujante, e esses, com certeza, estão mais acessíveis a Deus, o Dono de toda a felicidade, e gozam de leveza, alegria e paixão pela vida.
Humanos ímpares, marcados para vivenciar e fazer brotar, neles e à sua volta, sentimentos de quem é feliz.
Portanto, caros, afirmo:

- A felicidade existe!   ... somente quem tem o peito aberto pode entende-la! 


facebook.com/menteflorida
menteflorida.blogspot.com.br 

Salvação


Se todo silêncio verdadeiramente nos abraçasse
E toda lágrima nos olhasse com verdade
Penso: seríamos salvos?

Desistir jamais...


Desistir jamais! Jargão eloquente dos que precisam. Será possível que construir sonhos tem um fim? Meus pés estão cansados, apesar de cheios de chegadas. Acordei dentro da suspeita, procurando pistas de sentimentos indesvendáveis. Da janela vejo apenas fotografias multiplicadas em rotina, representadas por criaturas que, todos os dias, correm atrás de si mesmas. Dentro de mim, apenas versos. Rimas velhas guardadas dentro das gavetas de alma criança, que não cresce, que destoa, que imagina, perdida... Posso então crer que mudamos após o sono? No meu leito jazem flores que nunca brotaram. Para os racionais provavelmente uma estranha vive em mim. Para mim, fica a busca por, realmente, viver!

Renascer...





sonhe...
solta no ar
numa finitude
indecente
breve
densa como água
escalando vidas
que embalou as vigas
antes roubadas

chore...
tristezas vividas
que escorrem
nos degraus
de flores plásticas
emergem da mente
silencia as correntes
das madrugadas

pulse...
alegrias brancas
batidas frenéticas
de um peito
que dorme
e que consome
ritmos ardentes
olhares contentes
daquelas calçadas

esqueça...
encaixote os finais
borbulhados de nãos
caminhos perdidos
ilusões velhas
rasgando enfim
fotos
vidas
...amarelas

ai então: ame...
explodindo em verdade
semeando gritos
que ecoam em beleza
buscando abrigo
naquele intimo
que se traduz
em canção
poesia
leveza...

e na luz desse teu eu
repleto de um amor que a alma tinge
nem sombras hão de vir
porque esse amor
transparece
pleno revive
e ecoa
como prece... em ti!

Amor em mim... ♥


Quisera eu intimidar teu pranto
forrar-te inteiro, buscar-te inverso
cobrir de luz, florir teus cantos
e de sorrisos pôr-te imerso
Transpor tua sombra na alva lua
dar-te o momento não vivido
acender lamparinas em toda rua
ressuscitar teu peito adormecido
Oferecer-te meu olhar compadecido
forjar teu leito, lençol molhado
de rosas brancas, brancos tecidos
entregar-te enfim, meu ninho alado
Perdoes então, ânsia que sustento
de versos velhos e rimas falhas
e eis aqui, minha alma em teu vento
com tuas tristes iniciais cravadas
Aceites enfim, esse amor que socorre
primordial latejo, respiração precisa
alimento teu, impulsão que me move

encontrarás teu “Eu” posto em minha vida...

Sensações piratas ♥


Olhos limpos
silêncio revestido
busca incessante
íntimo andante
... absorvido.


Mãos dormentes
alvo semblante
grilhões fechados
grãos plantados
... transbordante.


Pés cansados
meta garrida
chegadas inteiras
ilusões perfeitas
... admitida.


Destino roubado
alma cerzida
rimas intactas
sensações piratas
... descolorida.


Retomada bendita
felicidade à espreita
esquecer-se de tudo
ganhar o mundo
... liquefeita.


Futuro aberto
medo à margem
sonhos refeitos
sorrisos eleitos
... coragem.


Sentimento imenso
explosão de cor
amor prescrito
viver florindo
... resplendor!

O tempo... ♥


Ah, esse tempo que avassala
imenso, vasto...
Nada o enquadra
nem o alucina
O tempo dói
mas cura
Nele as feridas partem
e os sonhos despertam
Inimigo e companheiro
o tempo insolúvel
incólume domina...
E a nós
marionetes da vida
resta-nos a espera...
De que o tempo se vá
de que enfim, chegue
Até que o que é eterno
se desintegre...
 

Nota silenciosa...♥



Ah, o silêncio... Não conheço nenhuma forma mais profunda de emoção latente. Aquele olhar de uma criança que nada entende, o vazio de um quarto que dorme, o eco que enquadra um campo... Ele sempre me cabe, me aquieta, me preenche, como gotas pequenas de orvalho que juntas formam um filete de água límpida acordando aquela pequena flor nascida em algum vão de terra. Por vezes, encho minhas mãos de silêncio e o faço ninar em meu peito, a fim de que ele nunca fuja e que ao meu redor a paz trazida seja sempre recorrente. É no silêncio que meus versos nascem, minha dor se acalma, meu amor multiplica... Como se eu parisse sentimentos sem dor, visse todas as cores que o escuro contém, experimentasse a incrível certeza de viver plenamente minha própria alma.  Não há de se ter receio de vivenciar o silêncio. Não é nenhuma dor algoz, nem sangra em prantos, é apenas escolha, são sonhos em folhas que sanam enganos. E nos gritos do silêncio, que quebram todas as janelas do peito, enfim, posso nascer reinventada, sentir todos os cheiros, praticar todos os verbos... E assim caminho, cerzindo meu silêncio ao meu amor mais profundo, numa mistura estranhamente perfeita que faz disso tudo, meu melhor e maior barulho!

Ka Santos