Ando tão sozinha dentro dessa
multidão que começo a me acostumar com o inanimado. Será que os sons que não
ouço foram mesmo pronunciados? Dentro dessa cratera de andarilhos vejo sombras
que fogem. Fogem de mim e do medo que absurdamente não sinto. Onde estarão
minhas armas? Porque perdi meu caminho, meus sonhos e minha agenda? Fico
perplexa diante do espelho que não reflete meu sorriso, porém ilumina minha
dúvida. E nas largas passadas rumo ao destino percebo que deixei todas as malas
e trouxe somente meus desejos. Não me importo, não sou apegada a bobagens. Me
apego, me agarro e me rasgo por sentidos. Sentidos de plenitude que nunca tive;
de equilíbrio que deixei numa escada alta; e de pensamentos brandos e serenos
que cabem dentro de um vidro. E na caminhada encontro pontos intermitentes de
luz: sinalizando meu espírito bifásico, bipolar, bivalente. Toda minha viagem
me parece tremenda e nem sempre é... Possuo a estranha característica de
aumentar o tamanho das coisas em proporções distorcidas: deve ser pelo meu medo
da matemática. Mas as trilhas, os destinos, as viagens tornam-se sem ângulo
algum e repletos de retas inexistentes. Minha paixão pela lua fez tudo em mim,
circular. Por isso minha estranha solidão tende a voltar e voltar e voltar...
Vivo nessa intensa esfera de sentir-me só e de ser só. Acompanham-me apenas
meus simples versos. E neles transbordo meus nãos e meus vácuos. E dentro dessa
multidão de normais, coloco meu silêncio no colo, visto as asas deixadas no
beiral da telhado, guardo meu enorme “compasso”, e confesso: ando tão
sozinha...
