Uma brisa dourada entra na
janela. Minha única companhia é uma suave manta xadrez junto ao sofá. Pés
frios, mãos inquietas. Sintomas de alguém sozinho que apenas ousa rabiscar os
medos vindos daquele velho coração sonhador. Sonhamos sempre com o que seremos
um dia, ou com o que queremos da vida, mas a essa mesma vida cutuca e ensina
que não somos donos de nossos caminhos, quiçá de nossas conquistas. Cada
escolha demanda várias renúncias, por vezes leves, por vezes tão doloridas. E,
nessas horas, a coragem se encolhe, se escondendo tímida dentro de um ser
perdido e temente. É tão primordial não envergonharmos a criança que existe
dentro de nós... E estarmos sempre encaixadas dentro das boas regras humanas e
dos preceitos aprendidos desde o berço... Será? Na verdade nessa tarde fria,
pacata e silenciosa queria encontrar-me e vestir-me de uma leveza azul onde os
risos são naturais, a paz tem morada no peito e o amor reina tranqüilo e
absoluto. Sonho apenas em ter-me... Ser a dona absoluta de meus gritos, meus vôos,
meus risos. E num breve momento dizer-me feliz, pois enfim, minhas asas foram
assumidas. E posso voar e levar comigo esse amor imenso que levita em mim... E
assim permaneço, e caminho, e emudeço em meus sonhos nunca ouvidos e em meu eu
nunca permitido... E um dia, numa carona repentina dada pela liberdade,
expulsarei todos os meus medos e caberei dentro dessa ilusão. Tão doce, tão
minha... Por hora, somos apenas minha manta xadrez e eu...
Ka Santos
A tempos tento ser a dona absoluta de meus sonhos, medos, de mim, um dia consigo.
ResponderExcluirBjs